
Por Breno Buswell Braga
Em meio a uma guerra que está devastando seu mundo, um jovem se agarra a seu rádio buscando notícias de sua família, ou ao menos encontrando conforto em saber que não existem más novas. Esta cena, que poderia se encaixar em qualquer filme sobre a Segunda Guerra Mundial, marca o tom deste sétimo capítulo da saga do outrora “menino que sobreviveu”.
Se Harry Potter e o Enigma do Príncipe foi o início da "trilogia" que vai encerrar a maior franquia cinematográfica de todos os tempos, Harry Potter e as Relíquias da Morte, apesar da Parte 1 do título, é o meio. Sendo assim, fica difícil analisá-lo com os mesmos critérios normalmente empregados em críticas cinematográficas. Como fragmento de algo maior, este Harry Potter simplesmente não se sustenta como entretenimento casual, com começo, meio e fim. Para apreciar Relíquias da Morte - Parte 1 é preciso ser devotado à franquia.
Referências a um sem-fim de detalhes dos outros filmes - e livros -, todas imprescindíveis para a compreensão deste capítulo, tornam esta uma experiência totalmente dedicada aos fãs. Há quem entenda isso como uma aberração cinematográfica, mas definitivamente esta produção não é voltada a esse tipo de público. É justamente o respeito às pessoas que estão há uma década ao lado de Harry, Ron e Hermione, algumas que, literalmente, cresceram ao lado do trio, o que torna este filme tão especial.

A decisão de dividir o último dos livros da saga Harry Potter, um dos maiores em volume, em dois filmes, ainda que funcione maravilhosamente bem dentro das intenções mercadológicas da Warner Bros., é excepcional em termos de fidelidade narrativa ao material original. Com 2h30 de duração para cobrir 60% do livro, a adaptação tem tempo de sobra para levar os acontecimentos do romance às telas sem os atalhos que os demais filmes se acostumaram a fazer.
Ainda que entendam perfeitamente seu público-alvo, o diretor David Yates e o roteirista Steve Kloves, pela terceira e sexta vez na série, respectivamente, não se acomodam no que comprovadamente funciona para essas adaptações ou limitam-se em entregar o esperado. Uma das preocupações que mais devem ser exaltadas na sérieHarry Potter é justamente esse crescimento contínuo. Cada um dos responsáveis pelos filmes deu aos fãs um pouco mais de qualidade cinematográfica, desenvolvendo conforme as histórias ficavam mais complexas e discutiam temas mais densos, e Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 mantém essa tendência.

Raiva, angústia, medo, ciúmes e solidão se misturam de maneira explosiva ao fervor da adolescência. Sim, temos cenas de ação e perseguições, mas até estas são bem mais pesadas, incluindo elementos como tortura (até de um dos personagens principais) e mortes inevitavelmente dolorosas. Yates sabe o quanto Harry cresceu desde que era o garoto no armário da escada, fazendo com que ele e seus amigos passem por um verdadeiro inferno rumo à maturidade.
O cineasta compreende que a audiência ficou mais madura no decorrer desta jornada, portanto não usa luvas de pelica. A linguagem visual e narrativa é a mais sofisticada dos longas da franquia, com um clima de urgência e tensão quase ininterrupto durante os 146 minutos da fita. Câmeras de mão são frequentemente utilizadas para ressaltar o estado emocional dos personagens, bem como planos longos e contemplativos. A inserção de uma animação que mostra a história das relíquias da morte, um dos pivôs da trama, também era algo arriscado e que poderia destoar do clima do filme, mas funciona muito bem.
A direção de fotografia do português Eduardo Serra está lá para ressaltar o quão frio e morto aquele mundo se tornou, em nada lembrando o clima alegre e acolhedor de Hogwarts. A trilha sonora de Alexandre Desplat completa o clima heróico, sombrio e melancólico da película, abrindo passagem por um breve momento para uma música de Nick Cave, uma dança antes do pesar. E essa é talvez uma das melhores cenas de toda a saga.
Nela, ao som da música "O' Children", Harry e Hermione decidem por de lado todas as suas aflições, medos e tristezas para que, mesmo que por um breve momento, relembrem de tempos mais felizes. Dois amigos que perderam as esperanças e que não tem em quem se apoiarem, a não ser neles mesmos. Um momento lindo, que mostra o quão grande é a amizade entre eles. Com certeza uma das cenas mais tocantes da história do cinema.
O tom da adaptação continua sombrio, como Yates já tratava elegantemente a série desde o quinto filme, mas desta vez há sequências ainda mais adultas, violentas e dramáticas, tanto que fica difícil classificá-la como uma fantasia. Há, claro, três ou quatro cenas de ação, mas elas estão muito distantes dos animados embates dos primeiros capítulos da franquia. Entre cada uma delas há longas (corajosamente longas, pensando na grande parte do público acostumado a esse tipo de produção) cenas em que muito pouco acontece além da tensão recorrente da solidão de três adolescentes tendo que, pela primeira vez em suas vidas, assumir as rédeas de seus destinos, sem professores, pais ou responsáveis.
Essa nova realidade, distante dos muros protetores de Hogwarts, dá ao trio protagonista (Daniel Radcliffe,Emma Watson e Rupert Grint) seus melhores momentos na série como atores. Especialmente Grint, que enfim consegue deixar de ser o amigo-alívio-cômico para disputar de igual para igual com Radcliffe o foco da atenção. Não é por acaso que Martin Scorsese andou dizendo que o ruivo é o "próximo Leonardo DiCaprio". Ele realmente aprendeu a atuar.

Mas a força do trio vem de Hermione. Rony coloca isso muito bem ao falar para Harry que eles não durariam muito tempo sem ela. Emma Watson, centro emocional do filme, retrata bem quão devastada a “melhor aluna da sala” está, presa em um momento histórico que lhe obriga a apagar da memória de seus pais sua própria existência para salvar-lhes a vida. Hermione se vê dividida entre o que sabe ser certo e os próprios sentimentos e as lágrimas que Emma Watson derrama mostram o potencial da jovem atriz.
No final, a despeito de toda essa desesperança, a inocência surge como uma luz no fim do túnel, embora tenha um alto preço a ser pago para se viver e lutar mais um dia. “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1″ prepara muito bem o tabuleiro do jogo para um clímax inesquecível.

Finalmente... kkkk Mas valeu a pena esperar a crítica está excelente! Sem dúvida esse filme merece a qualificação máxima!!
ResponderExcluirAdorei a crítica! O filme é muito bom, eu sou fã da Helena que interpreta a Belatrix acho ela simplismente incrível!!
ResponderExcluirEsse filme é show um dos melhores que eu já vi! Adorei a crítica muito bem escrita!!!
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